Padre
Sebastião avalia os seis anos em que está em Monte Azul e pede mais união para
uma cidade melhor
Alini
Fuloni
Foi numa rápida conversa,
sentados na mureta da fonte da Praça Rio Branco, que o pároco Sebastião Vicente
desabafou ao acidade no final da
tarde de quarta-feira, 13. O objetivo inicial era de falar dos seis anos a
frente da igreja católica de Monte Azul, mas padre Sebastião também respondeu a
vários comentários que chegaram à redação nas últimas semanas.
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Pe. Sebastião faz balanço de seu tempo em Monte Azul. (Foto - AFuloni) |
Em entrevista, padre
Sebastião fala do aumento de fieis nas atividades religiosas e a necessidade
dos gastos com a reforma da Matriz. Também avalia a Festa do Padroeiro deste
ano e, inclusive, responde para quem disse que ele não aprova o evento pelo
simples fato de a igreja se manter sozinha: “Não disse que é desnecessária. Então, o problema de Monte Azul é o
tamanho da língua das pessoas, que têm algumas que vão precisar de dois
caixões: um para o corpo e outro para a língua, dando dois trabalhos para a
funerária”.
Entre
os assuntos da Festa do Padroeiro, padre Sebastião também fala do absurdo de se
levar mesas e cadeiras do evento, além daqueles que ocupam lugares com caixas
de isopor, ou seja, sem consumir nada na festa. Outro assunto abordado é a
demora nas entregas de pedidos de porções, explicando que poderia até aumentar
o número de garçonetes, mas não de fritadeiras, já que a praça não comporta
mais o tamanho da festa. Confira.
acidade – São seis anos em Monte
Azul com reviravolta na igreja, ou seja, atraiu mais fieis para atividades
religiosas, como procissões. Como avalia a atual igreja católica em Monte Azul?
Padre Sebastião Vicente – Quando chegamos, nossa tentativa foi justamente essa:
resgatar aqueles que, de alguma forma, estavam afastados. Realmente, nesse
período, muitas pessoas voltaram a participar mais ativamente da igreja.
Tínhamos a média de 50 agentes de pastoral, ou seja, que estão mais a frente,
como catequistas, ministros da Eucaristia, coroinhas e acólitos. Hoje, esse
número chega a 300 - mais ou menos. Nesse sentido, damos encaminhamento a um
trabalho que não irá ser resolvido de uma hora para outra, mas, acima de tudo,
resgatar as pessoas para maior vivência com Deus e a espiritualidade. E essas
que conseguem viver isso, certamente são melhores cidadãos, em casa com sua
família, no trabalho, na escola e no lazer.
As capelas também foram
diferenciais neste período, como a revitalização na São Francisco, a São Judas
que caminha na construção para atender a comunidade, assim como a Santa Luzia,
no Baraldi. Estes investimentos representam a expansão da igreja católica ao
invés de focar somente na Matriz?
A questão maior é justamente
essa. Em 2007, em Aparecida, houve encontro dos bispos da América Latina e do
Caribe para pensar a igreja, como já teve em Medellín, na Colômbia, há um tempo,
e lá o documento traz uma fala muito rara que a paróquia é uma rede de
comunidades. Uma cidade como a nossa, precisa de, pelo menos, seis ou sete
capelas. Já não há aquela vitalidade da população que tínhamos nas décadas de
1970 e 1980. Nosso número de idosos é muito maior e fica difícil deslocar de
seu bairro para vir à igreja central, como é nossa Matriz. Então, as capelas
não são uma expansão da igreja, mas para levar a igreja justamente a esses
locais em que as pessoas estão e você também facilita a vida delas na
espiritualidade, na vida da comunidade e da igreja.
Hoje, em Monte Azul, o maior
número de fieis é composto por idosos?
Não. Temos parcela muito grande
de jovens, de adultos – não vou dizer de meia idade, porque não sabemos qual é
a de ninguém! Hoje, é bem eclética. Para você ter uma ideia, devemos ter 110
adolescentes e jovens que são acólitos e cerimoniários - meninos e meninas que
ajudam no serviço do altar. Temos um grupo de jovens realmente muito bom e com
grande participação. Hoje, nossa igreja é completa na presença de crianças,
adolescentes, jovens, adultos e idosos. Todos se ajudando mutuamente nesse
caminhar para Deus.
“Nossa cidade é maravilhosa, nosso povo é muito bom,
mas é preciso resgatar esse sentimento de ser cidadão, de ser monteazulense” –
Pe. Sebastião.
E, desde sua chegada,
comentou-se também do gasto excessivo com a reforma da Matriz. Qual sua
opinião?
Não é questão de gasto
excessivo, mas do que tem de ser feito. E nada é barato hoje em dia. Para você
ter uma ideia: comprei as telhas da capela Santa Luzia, no bairro Baraldi, e
custaram R$ 32 mil! Nada é barato. Agora, e se você vai cuidar de uma Matriz
como essa, com sua história, porque não é uma igreja de 10 anos, mas que fará
100 anos em 2017 – a igreja como local de culto, paróquia é com mais tempo...
Então, é algo que tem de ser bem feito para não precisar refazer daqui a 10
dias. Você tem que fazer um investimento em que pense mais para frente numa
forma mais barata de manutenção. E tudo isso foi feito, além de pensar na
economia, também nessa longevidade do que foi feito. Por exemplo: o piso da
Matriz, se bem cuidado, irá durar 100 anos, porque é granito. E nada é barato.
Quem está construindo sabe disso. Tem que segurar de todos os jeitos para
qualquer reforminha que faz em sua casa. Então, pode ser barato? Não, mas está
sendo feito da melhor forma e mais econômica possível.
Falta mais alguma coisa para
fazer na Matriz?
Ao meu ver, faltam os dois
altares laterais – o mor, todo em granito, já está pronto, e também os vitrais
da janela, mas são passos a serem dados.
Faltaria também a climatização,
a exemplo da Capela São Francisco?
Estudamos a melhor forma
possível. É pensar em custo-benefício. Fala-se, por exemplo, de se colocar
ar-condicionado. Seriam necessários 16 aparelhos de 80 mil Btus. Qual o consumo
disso? Será que teríamos condições de manter? Então, estudamos a melhor forma,
mas uma climatização será necessária e não temos dúvida.
Como estão as obras da capela
Santa Luzia?
O telhado já está sendo
colocado. Temos um sonho de lá para novembro ou dezembro começarmos a usá-la
para as missas e encontros da comunidade.
Sobre a Festa do Padroeiro, qual
sua avaliação?
Ficou bem menos cansativa com
esses seis dias, também pela crise que passamos na região, um dos motivos de
diminuir. Nossa tentativa nesses sete anos é de tentar transformá-la cada vez
mais em uma festa que seja realmente das pastorais e das entidades e, a cada
ano, damos passos neste sentido. Ao meu ver foi muito boa. Todos que vieram
gostaram e teceram muitos elogios. Os probleminhas têm, por exemplo, é
impossível você servir todo mundo na hora. Isso é impossível e não tem jeito
por ser uma quantidade enorme de pessoas.
Uma das críticas foi justamente
essa: a falta de garçonete e a demora de mais de uma hora para a entrega das
porções. Qual foi o motivo?
É a quantidade de pessoas. Não
tem jeito.
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Padre Sebastião: “Aqueles que acham que precisa mudar, venham nos ajudar a fazer diferente. Precisamos de ajuda”. (Foto – AFuloni) |
Por serem muitas ou da falta de
voluntários?
Mesmo que tivéssemos mais
voluntários seria impossível colocar mais fritadeiras ou outras coisas, mesmo
porque não temos espaço para isso. Na realidade, nossa praça não tem mais
espaço para comportar essa festa e, mesmo em qualquer outra quermesse que você
vá, haverá certa demora quando é grande o movimento. E já sabe disso quem vai à
quermesse. E a questão das garçonetes foi justamente a necessidade de cortar
custos. No ano passado, foram R$ 25 mil só de garçonete. Onde você tira um
lucro desse para poder pagar? Então, as pessoas não veem o custo que fica essa
festa. Esse ano, já tendo diminuído bastante, começamos a festa devendo 70 mil
reais. As pessoas acham que é só boa vontade. “Vamos fazer que as coisas caem
do céu!”. Não é assim, não. Há responsabilidade financeira, de segurança,
diante do poder público... Há vários tipos de responsabilidade que as pessoas
não querem arcar e depois saem falando mal do padre. Venham ajudar, venham
assumir a responsabilidade, venham assumir juntos. É fácil sentar numa praça ou
esquina e falar mal. Venha comer o saco de sal junto. Venha fazer junto pelas
entidades. Aí, aparecem poucos.
Também tem a questão de as
pessoas chegarem com caixa de isopor com bebidas e ficarem nas mesas, ou seja,
sem consumirem na festa. Este tipo de atitude prejudica o lucro da festa, que
tem fim filantrópico?
Normalmente, não reparo muito
nisso. As pessoas falam que tem quem traga coisas. Vai da consciência de cada
um. Acho que estou fazendo minha parte. Não levo um tostão disso – apesar de as
pessoas falarem que o dinheiro é do padre e, se fosse, estaria bom, mas não é;
padre tem de prestar contas, recebe ajuda de custo de dois salários mínimos por
mês. Então, não é do padre. Acho que vai da consciência de cada um. Para você
ter uma ideia, todos os anos desaparecem mesas e cadeiras. As pessoas levam
para casa...
E são locadas?
Sim, aí temos de pagar depois. A
grande maioria das pessoas não tem consciência comunitária, vindo à festa
somente como um meio de beber um pouquinho mais, de esticar o lazer, um
entretenimento. Não consegue enxergar o que é feito além dessa festa. Aqueles
que acham que precisa mudar, venham nos ajudar a fazer diferente. Precisamos de
ajuda.
Qual sua opinião da Festa do
Padroeiro?
Vou ser sincero com você. É uma
festa que tomou um vulto muito grande, desnecessário, ao meu ver. Prefiro, por
exemplo, a Festa Junina das Pastorais, que realizamos em julho. Foi um momento
de lazer, de entretenimento, sem bebida alcoólica, sem confusão e tranquila.
Para mim, tomou um vulto muito grande, mas é a festa da cidade. Tive de
trabalhar no caixa por dois dias pela falta de voluntários e via as famílias
sentadas e é isso que me anima um pouco a continuar. Quando você as vê
sentadas, percebe que é um momento familiar para muitas, apesar de toda essa
onda de violência que vivemos na região inteira. É uma festa que até hoje,
graças a Deus, não gerou grandes complicações ou problemas. Então, o que anima
é ver a família num momento de lazer e acho que não deveria ser tão grande. Mas
aí é algo que foge até um pouquinho daquilo que eu acho, que muito deve ser
feito.
Há comentário também de que
teria dito que a Festa do Padroeiro é desnecessária, porque a igreja se mantém
por si só. Tem fundamento?
Não, não. Não usei esse termo. É
que as pessoas... Queria que você usasse essa frase: sou responsável por aquilo
que falo e não pelo que as pessoas acham e entendem. Têm pessoas que não
entendem nem desenhando. O que eu disse é: hoje, com a graça de Deus, a igreja
não tem necessidade mais do dinheiro da festa para sua manutenção mensal
ordinária – palavra que não significa uma coisa ruim. A igreja tem custos
mensais que, antigamente, necessitava do resultado da festa para se pagar.
Hoje, com a graça de Deus, com os católicos conscientes, o nosso dízimo e a
nossa coleta conseguem manter esses custos. Não disse que é desnecessária.
Então, o problema de Monte Azul é o tamanho da língua das pessoas, que têm
algumas que vão precisar de dois caixões: um para o corpo e outro para a
língua, dando dois trabalhos para a funerária.
“É fácil sentar numa praça ou esquina e falar mal.
Venha comer o saco de sal junto. Venha fazer junto pelas entidades”.
Acredita que incomoda seu jeito
de ser, por isso há tantos ‘diz que me disse’?
Vou ser muito sincero, como
sempre fui. Tenho o pavio curto, brigo com qualquer um até com o papa se
estiver certo, mas abaixo a cabeça para qualquer um se estiver errado. Então,
esse é o meu jeito de ser. E falo o que tenho de falar. Você me conhece e sou
assim desde que cheguei. E eu faço, não falo só, não, e isso talvez incomode
aqueles que só olham e olham, mas não têm coragem de fazer. Talvez seja isso,
não sei. Aí, fica da consciência de cada um.
Considerações finais.
Olha, nossa cidade é maravilhosa
e já disse isso para diversas pessoas, inclusive para você, e repito: Monte
Azul tem um povo com coração do tamanho do mundo, que tem tudo para ser boa
para todos. Graças a Deus, estamos há sete anos caminhando e notamos pessoas
que realmente são apaixonadas e querem fazer dessa cidade um lugar melhor. E
são com essas pessoas que temos de contar. Então, nossa cidade é maravilhosa,
nosso povo é muito bom, mas é preciso resgatar esse sentimento de ser cidadão,
de ser monteazulense. Aí, alguém pode dizer que nem sou daqui. Onde estou é
minha terra, tanto que até recebi um Título de Cidadão Monteazulense –agradeço
o vereador da época pela gentileza, porque sou apaixonado por onde estou. Amo
essa cidade e é triste perceber que, às vezes, pessoas de fora amam mais que as
daqui. Poderíamos nos unir mais para fazer uma cidade melhor ao invés de ficar
falando daquilo que não sabe e não entende.
Em nossa primeira entrevista, há
seis anos, disse exatamente isso: de se gostar de onde está...
Exato. Aprendi isso. Sou cidadão
do mundo, filho de Deus. Nasci nesta terra e não gosto muito de fronteiras –
não que não devam existir, mas muitas vezes afastam as pessoas. Prefiro dizer
que somos cidadãos do mundo e, como tal, temos de fazer um mundo melhor. Se
você vive num mundo dentro de Monte Azul, faça Monte Azul melhor que fará o seu
mundo melhor.
Matéria publicada na edição de 16 de agosto de 2014, no jornal acidade, de Monte Azul e região. Assine
já: (17) 3361-2610.